TRETAS JURÍDICAS - PATENTE 2.292.387, CONEXÃO WIRELESS

UMA HISTÓRIA CINEMATOGRÁFICA


Uma história de sexismo e de crime contra a propriedade industrial. Mas que é uma lição de vida. Vida jurídica!


Hollywood, década de 40, II Guerra Mundial. Uma mulher inconformada com as atitudes de Hitler resolve que vai acabar com a Guerra.

Seu primeiro marido, quando ela ainda vivia na Áustria, fabricava armas e munições, que foram fornecidas para os alemães nazistas. Então ela sabia das falhas desses equipamentos.

Ela também havia aproveitado o período em que ficou “presa” num relacionamento abusivo com esse marido para preencher sua mente de informações preciosas, adquiridas através dos livros de sua biblioteca e conversas nos jantares de negócios.

Munida desses conhecimentos, já nos EUA, tem a ideia de criar um sistema sem fios de torpedos guiados por rádio, e que não pudessem ser interceptados. O objetivo é que fossem mais precisos que os modelos com fios.

Seu propósito era levar tal invento à Marinha Americana, a fim de que eles acabassem com Hitler e botassem um ponto final no nazismo.

Ficou maquinando, maquinando...mas não sabia ainda o que fazer para de fato construir esse dispositivo.

Conheceu um homem, um pianista, cuja composição musical mais famosa a fez descobrir como desenvolver sua invenção. O chamou para sócio na sua empreitada.

Criaram um mecanismo. Produto pronto. Decidem encaminhar o pedido de registro da invenção e ao mesmo tempo apresentam a descrição e a funcionalidade para a Marinha Americana, ofertando o produto para ajudá-los na guerra.

O tempo passa e a ansiedade pelas só aumentava, junto com os estragos da Guerra. Até que um dia chegam notícias. A boa era que o pedido de carta patente havia sido aceito e registrado. A má, a Marinha havia recusado a invenção. Por qual motivo será que recusaram? Disseram que era grande demais. Como assim? O sistema cabia dentro de um relógio!

Como essa mulher nunca se dava por vencida facilmente, foi ao quartel da Marinha entender melhor essa treta!

Chegando lá, expos todas as informações necessárias para convencê-los, inclusive o fato de ter sido aceito registro da carta patente. O que era um sinal de validade e eficácia do invento! Ao dar essa informação, percebeu as fisionomias chocadas dos militares. Foi quando descobriu o verdadeiro motivo da recusa: a inventora ser uma mulher e atriz! Isso, segundo eles, não daria credibilidade ao invento e os soldados não se sentiriam seguros em suar o dispositivo durante a Guerra.
Será que o fato de terem ficado chocados com a informação do registro era um indicativo de que a Marinha Americana intencionava se apropriar do invento, assumindo a autoria?

Nunca teremos certeza absoluta. O fato é que o Exército classificou a PATENTE 2.292.387 como altamente confidencial. O que fez a invenção ficar adormecida por uma década.

As normas de propriedade industrial dispõem que, durante a validade da carta patente, terceiros não podem utilizar as informações descritas na invenção para criar produtos sem a autorização dos titulares. E foi o que aconteceu: passado o período de validade da carta patente, o Exército Americano retomou o invento e contratou um fabricante para produzir.

O FINAL DESSA TRETA?

A tecnologia de espelhamento espectral, a grande novidade desse invento, serviu de inspiração para muitas outras invenções, inclusive o celular! Porém, o papel relevante de sua inventora ficou desconhecido por décadas. Somente nos anos de 1990 que ela começou a receber honras de citação e prêmios de agradecimento e reconhecimento por essa valiosa contribuição à ciência. 

Afinal, se hoje temos a Conexão Wireless, é graças a Hedy Kiesler, atriz austríaca, que no final dos anos 30 saiu fugida de seu país. Fixou residência nos EUA, e se tornou a famosa atriz hollywoodiana Hedy Lamarr.

Com ela aprendemos, dentre outras coisas, que é importante registrar nossas criações, nossa Propriedade Intelectual!


*** texto livremente inspirado no livro A ÚNICA MULHER de Marie Benedict***

Comentários

Postagens mais visitadas